Capa de "The Donnas", de 1997 |
É verdade que a maior parte das bandas começou a carreira fazendo cover de seus ídolos. Muitos grupos que hoje são referência de um determinado estilo abriram portas tocando clássicos, há inúmeros exemplos disso. Mas, no caso das Donnas, elas escolheram um caminho inusitado. Influenciadas por bandas de punk dos anos 70, em seu início elas optaram por se tornar uma espécie de “Ramones de saias”.
A BANDA
O começo de carreira delas é semelhante ao de muitas bandas, inclusive do Metallica, cuja história eu já contei aqui, vide “Kill ‘em All(Metallica, 1983)”. As ainda meninas Brett Anderson (voz), Allison Robertson (guita), Maya Ford (baixo) e Torry Castellano (batera) se conheceram no colegial.
E havia algo inusitado nessa amizade das quatro, coincidentemente elas compartilhavam vários detalhes e interesses. Todas são nascidas em 1979, estudavam na mesma escola, curtiam rock, em especial as vertentes do punk “setentista”, e todas estavam aprendendo a tocar algum instrumento. Era coincidência demais, e a ideia da banda era mais que óbvia. Então, lá pra 1993 elas passam a se apresentar como “The Electrocutes” (é um trocadilho, mais ou menos como se fosse “Eletrogatas”, algo assim).
Anos depois a banda foi amadurecendo e se tornando um negócio mais sério. Elas queriam passar isso às pessoas, então foi necessário criar uma nova identidade, algo que fosse icônico. Assim, elas foram buscar soluções nos Ramones, e copiaram muitas estratégias: cada uma incorporou “Donna” ao nome artístico, a estética das músicas foi se tornando mais crua, os figurinos também. O novo nome, portanto, não poderia ser outro: The Donnas.
CONTEXTO HISTÓRICO
A música, como a gente conhece, digo, suas escalas, notas e campos harmônicos existem há centenas e mais centenas de anos. Logo, é fácil dizer que é muito pouco provável que alguém faça algo REALMENTE inovador. Isso nem é uma crítica aos músicos, afinal é normal pegar uma base pronta e aperfeiçoá-la, a evolução funciona assim. De qualquer forma, o que quero dizer é que dificilmente alguém vai produzir algo sem que alguém diga “isso parece com...”, chance quase zero.
E todos sabem que muitas bandas “copiavam” seus ídolos. Inclusive existem muitos exemplos de canções cujo cover ficou tão bom que parece ser o original. Só pra citar alguns: Twist and Shout (cover: Beatles; original: Top Notes), All Along the Watchtower (cover: Jimi Hendrix; original: Bob Dylan), Stand By Me (cover: John Lennon; original: Ben E. King), e I Don’t Want to Grow Up (cover: Ramones; original: Tom Waits).
Na mesma linha, pode-se dizer que algumas bandas se parecem umas com as outras, por imitação de “fórmula”, ou por tendência. É fácil achar exemplos: Beatles e Rolling Stones, Metallica e Megadeth, Nirvana e Soudgarden, Ira e Ultraje a Rigor.
Então, no caso das meninas das Donnas, sua estratégia não era uma ideia ruim. “Imitar” os Ramones teria suas vantagens. Entretanto, para muitos críticos da época (inclusive pra mim também), faltava-lhes ousadia.
O DISCO
Se você já rolou esse texto pra baixo pra ver a minha Avaliação 0-10 desse disco, viu que a nota que eu dei foi 3. Não está errado, é isso mesmo, embora alguém tenha pensado “pô, mas você nunca dá nota menor que 7!” (na verdade, eu dei 5 pro “John Lennon/Plastic Ono Band”, lembra?).
Então, curto e grosso, afirmo. Pra mim, esse disco é ruim!
Aliás, meu primeiro impulso foi dar nota 2 ou 1, mas subi um pouquinho pela coragem que as meninas Donnas tiveram em produzir um disco de punk em uma época em que o estilo já estava falido. Os Ramones faziam os últimos shows de sua vida, os demais grupos já estavam mais que acabados, e as bandas recém criadas preferiam seguir as linhas dos gêneros sucessores, como o grunge e o hardcore.
Mas nem essa coragem delas foi suficiente pra fazer um disco que se poderia chamar de clássico. Letras simplórias (como Get Rid of That Girl e Friday Fun) e títulos claramente influenciados pelo quarteto de NY (como I Don’t Wanna Go, I Don’t Wanna Go to School, Lana & Steve, e I Wanna Be a Unabomber), junto com... digamos, vai... uma certa “carência” técnica fazem de “The Donnas” um disco que eu recomendaria apenas para colecionadores de curiosidades e os fãs de carteirinha.
Mas para que as pessoas não desistam de ouvir este grupo, saiba que os discos mais recentes delas são ótimos! Não vou falar deles agora, porque todos terão resenhas próprias. Mas eu posso te garantir, talvez você se decepcione com “The Donnas”, mas este disco não é nem sombra do que essas meninas foram capazes de fazer ao longo do tempo!
LISTA DE FAIXAS
1. Hey, I'm Gonna Be Your Girl
2. Let's Go Mano
3. Teenage Runaway
4. Lana & Steve
5. I'm Gonna Make Him Mine (Tonight)
6. Huff All Night
7. I Don't Wanna Go
8. We Don't Go
9. Friday Fun
10. Everybody's Smoking Cheeba
11. Get Rid of That Girl
12. Drive In
13. Do You Wanna Go Out With Me
14. Rock 'N' Roll Boy
15. High School Yum Yum
16 Boy Like You
17. Let's Rab
18. Let's Go Mano [original]
19. Last Chance Dance
20. I Wanna Be a Unabomber
21. Da Doo Ron Ron
22. I Don't Want to Go to School
23. I Don't Wanna Rock 'N' Roll Tonight
AVALIAÇÃO 0-10
Nota 3.
Buuuh!!
ResponderExcluirEsse disco é foda!!!
Nota 10!! ehhee =P
aêêê Summers, prazer incomensurável tê-lo comentando no meu blog! A maior sumidade em Ramones no Brasil, é muita honra!
ResponderExcluirEntendo que não tenha gostado da nota que eu dei a esse disco. É que todos os outros delas são muito melhores. Meus preferidos são Spend the Night e o Bitchin'. O Gold Medal também é legal.
Apareça mais vezes, meu velho! Grande abaço
Ae Fabião, mais um bom post!
ResponderExcluirPostando os bons e os discos ruins (no seu conceito) também, é isso aí! O meu conceito ainda é nulo, mas valeu pela indicação!
Falones!
Buli
Então Buli, é que nem eu falei pro Summers. Eu acho esse disco chato pra caramba. Mas ele não deixa de ser um disco importante.
ResponderExcluirJá é muito raro bandas de rock só com mulheres. E essas meninas das Donnas tiveram (com o perdão da inversão de lógica) culhão bastante pra lançar um disco desse, sabendo que o contexto da época era totalmente desfavorável pra isso.
Pra mim, elas foram muito "machas" em fazê-lo, e isso é digno de respeito.
E, no mais, os 3 últimos discos delas são excelentes. Seria injusto julgá-las por este disco aqui.
Valeu de nvo aí, Buli. Abraço