Capa de "John Lennon...", de 1970 |
Quando se fala de estudo de discografias, o nome de John Lennon é sempre carta certa. Afinal, como não falar do fundador dos Beatles, o grupo que revolucionou a forma de fazer música, que fez o primeiro show em estádio, que iniciou a psicodelia... É inútil citar o que ele fez enquanto parte dos Fab Four. O fato é que, com o fim da banda, ele seguiu carreira solo, e os fãs puderam ver o que havia por trás do Ié, Ié, Ié: um homem constantemente atormentado pelo passado.
O MÚSICO
O fim dos Beatles aconteceu de forma melancólica. Antes de terminar o disco “Abbey Road”, eles já sabiam que não continuariam como banda. O próprio Lennon já tinha iniciado ensaios sem o grupo antes, como os discos “Two Virgins” e “Wedding Album”. Posteriormente, ele foi convidado pelos demais integrantes para terminar as linhas que comporiam o projeto Get Back (que foi lançado como “Let It Be”), abandonado anos atrás. Lennon não compareceu.
Há aquela altura, ele já estava envolvido no seu primeiro disco solo. Só que, para entender esse disco, é necessário saber que ele e Yoko Ono estavam fazendo terapia com o Psicólogo Arthur Janov, autor de “O Grito Primal”. Sua obra consiste em “encorajar” o paciente a reviver seus traumas, a fim de se livrar deles.
E Lennon tinha um monte de traumas! Metade deles faz menção ao seu relacionamento conturbado com a mãe, que não participou ativamente de sua infância. Ele foi criado pela tia. Quando finalmente, na adolescência, ele se entende com a Sr.ª Julia Lennon, ela é atropelada e morre! Agregado isso à ausência da figura paterna, não é de se estranhar que ele realmente fosse atormentado.
Tudo isso o encorajou a procurar o Dr. Janov, o que fez uma tremenda diferença para toda a criação e a estética do seu primeiro disco.
CONTEXTO HISTÓRICO
O fim da década de 60 ficou marcada pela “guerra tecnológica” entre as potências econômicas EUA e URSS. As viagens espaciais são o melhor exemplo disso que ficou conhecido como “A Guerra Fria”. O Capitalismo fervia, o Socialismo avançava vorazmente. E, no meio de tudo isso, tem o povo.
E é óbvio que, quando nações entram em conflito, ainda que não armado, as pessoas se manifestam. Revoluções pipocavam em toda parte, os estadunidenses começavam a questionar os motivos de sua participação nos conflitos no Vietnã, o Oriente Médio estava todo em confronto armado (o que culminaria na crise do petróleo), a Nigéria em guerra civil.
Na música, as manifestações ainda vinham tímidas, subliminares. Curiosamente, muitos artistas não traziam essa carga política até este período, ainda que outros se expusessem sob a velha bandeira hippie do “paz e amor”. O próprio Lennon era um dos que encabeçava esse tipo de manifesto, na forma dos famigerados “Bed In” e do single “Give Peace a Chance”.
As manifestações entre os músicos viriam mais fortes anos depois, mesmo para Lennon. É possível que essa “apatia” na música se deva por causa de uma “ressaca”. Afinal, foi nesse período que os Beatles encerraram as atividades, Jimmi Hendrix e Janis Joplin morreram, e muitos artistas afundavam cada vez mais em drogas (como Jim Morrison e Keith Moon). Lennon, por sua vez, tinha dezenas de “fantasmas” para exorcizar.
O DISCO
Correndo o risco de ser chamado de herege pelos fãs, “John Lennon/Plastic Ono Band” é um disco apenas razoável. Ele não lembra em quase nada os trabalhos sofisticados e ricos em seus últimos anos como Beatle. Lennon preferiu adotar a linha “quem canta os males espanta”.
Todas as letras desse disco fazem menção a algum problema ou trauma do artista. O tom já é dado logo de cara. Mother escancara pra quem quiser ouvir, sem duplo sentido, sem mensagem subliminar. Outras faixas trazem esse “descarrego”, como Isolation, My Mummy’s Dead, I Found Out e Remember.
A única, talvez, que não se encaixa muito nesse perfil é Working Class Hero, mas ainda assim, ela mostra o sofrimento de se submeter a várias instâncias sociais. Esta é a única faixa do disco que dá uma ideia de como Lennon iria direcionar sua carreira nos anos posteriores.
Mas o maior destaque do disco é God. É nesta canção que ele diz a célebre frase “o sonho acabou”, referindo-se ao fim dos Beatles. Nela, Lennon ataca todo mundo, da igreja à política, e principalmente seu ex-grupo, mostrando todo o ressentimento dos últimos anos com Paul, George e Ringo.
Assim, “John Lennon…” não é tão empolgante. Em contrapartida, é o melhor disco de um artista sobre suas próprias inflexões. Recomendo pra quem quer entender porque ele era do jeito que era.
LISTA DE FAIXAS
1. Mother
2. Hold On
3. I Found Out
4. Working Class Hero
5. Isolation
6. Remember
7. Love
8. Well Well Well
9. Look at Me
10. God
11. My Mummy's Dead
12. Power to the People *
13. Do the Oz *
* faixas adicionais do relançamento do álbum em 2000.
AVALIAÇÃO 0-10
Nota 5.
Mto boa abordagem Fabio! Particularmente a carreira solo d John n me empolga, exceto um disco q ele fez só d covers d Rock'n Roll raiz (contendo a fantástica versão de Rip it up do 'Ricardinho') ele ainda emenda Ready Ted q n sei d quem é ...
ResponderExcluirMas outros sons me fazem pensar q aquela japa safada roubou td a energia do cara. Lógico q ele é um ícone, um dos maiores n só do Rock mas da música Pop. Sem seu temperament odifícil mas persistente foi a base dos Beatles, pelo menos no início (oq me remete anos mais tarde a outro John, mas um ainda mais durão c/ cabelo tigela q dava piruetas no palco) é ou n é!? hehehe
Falones!
Buli
É verdade, Buli, os discos solo do John Lennon são muito aquém do que foram os dos Beatles. E não só os dele, os dos 4 integrantes, nenhum atingiu o nível de musicalidade que os Beatles tinha. Na verdade, eu até gosto de alguns discos dele, como o Imagine e o Mind Games. Mas é como você já disse, nenhum empolgou tanto quanto o Magical Mistery Tour, ou o Abbey Road.
ResponderExcluirAgora sobre a "japa safada"... heheheheh! Muita gente condena ela, mas eu sou um dos poucos que a "absolve". O motivo é simples. John iria fatalmente se dobrar a qualquer mulher com personalidade mais dominante. O cara era tão fissurado com esse negócio de abandono na infância, que se ele tivesse reconhecido em um poste a figura da mãe, ele ficaria agarrado nele até o fim da vida! Yoko apenas assumiu a bronca!
E os Beatles terminariam de qualquer forma, independentemente da Japa ou não-Japa!
Valeu, meu velho. Abraço.