Capa de "Horses", de 1975 |
Olha, quem for acessar esse blog com alguma frequência vai ter que se acostumar comigo falando sobre punk! O post de hoje é sobre o disco que iniciou a carreira de Patti Smith. Suas músicas não têm exatamente aquela estética punk. Entretanto, poucos sabem que, antes de fazer música e antes desse movimento ganhar o mundo, ela já usava jaquetas de couro e roupas rasgadas, com atitudes de dar inveja a qualquer rocker!
A MUSICISTA
Imagine-se chegando ao Pink Elephant (uma das baladas mais requintadas de São Paulo). Bem vestido, você entra na fila, esperando que a linda hostess, com cara de quem chupou todo o limão do mundo, lhe dê atenção. De repente, chega uma menina magricela, fedida e com roupas rasgadas. Ela encosta ali do lado, e começa a xingar todo mundo, fazer graça com os penteados das madamas, inventar apelidos aos integrantes da fila. Depois de meia hora de “elogios”, os seguranças a escoltam “gentilmente” a algum lugar bem longe dali.
Esta era Patti Smith na década de 60! Agora me fala se isso não é muito punk! Em minha opinião, é muito mais punk que qualquer cusparada de Johnny Rotten!
Patti Smith sempre foi uma artista nata. Ainda adolescente, ela já escrevia poemas, participava de recitais, fez teatro e redigia artigos para revistas. Nessa época ela já flertava com o rock, sendo co-autora de canções de alguns grupos, como o Blue Öyster Cult. Além disso, também teve contato com a fotografia, por influência do seu companheiro Robert Mapplethorpe.
Assim, sua migração para a música aconteceu de forma natural. Em 1974, Smith começou a se apresentar com um número musical junto com Lenny Kaye (guita), Ivan Kral (baixo), Jay Dee Daugherty (batera) e Richard Sohl (piano).
CONTEXTO HISTÓRICO
Eu já citei em alguns posts desse blog o cenário das décadas de 60 e 70 (veja de novo: “Ramones”, “The Runaways” e “John Lennon/Plastic Ono Band”). Era uma época na qual os EUA enfrentavam um momento político e econômico delicado.
Para os artistas em geral, isso foi determinante para a estética de suas obras. Com orçamentos mais simples, a maior parte teve que se virar de forma independente. Eis que, no meio da bagunça, surge o nome de Andy Warhol, que era uma espécie de “gerente geral” da Factory, que por sua vez era uma espécie de “cooperativa” de artistas independentes. Na música, o grupo mais conhecido produzido por Warhol foi o Velvet Underground.
Para Patti Smith, grupos como a Factory foram a solução para uma vida de tédio, como uma simples funcionária chão de fábrica em uma linha de produção (ofício que ela desempenhou até 1967). Além da Factory, outros grupos que se destacaram nesse cenário (e do qual Smith fez parte) foi o Poetry Project, da igreja de St. Mark. Foi lá que ela desenvolveu a maior parte de suas poesias, textos, e muito do que viriam a ser as suas músicas.
O DISCO
Ao pegar o disco e verificar a lista de faixas, algumas pessoas vão perceber que a primeira música, Gloria, é um cover batidíssimo de Van Morrison (não é de Jim Morrison, é de outra pessoa “da mesma família”, hehehe!). “Tá bom, vá lá”, e põe o disco pra tocar. O riff é igual, e você acha que é só mais um “mais do mesmo”. Então, entra a primeira frase: “Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não os meus”. “Opa! Tá diferente!” É, bota diferente!
Só aí, você já vai notar que não se trata nem um pouco de “mais do mesmo”. Patti Smith trouxe uma estética musical muito diferente do que as pessoas conheciam na época. As linhas harmônicas são absurdamente simples, mas as melodias têm detalhes que fogem do lugar comum. As letras, todas recheadas de metáforas poéticas, são até difíceis de descrever, como no exemplo do cover de Van Morrison.
Muito desse viés poético pode ser visto em várias faixas desse disco, como em Land, Birdland e Kimberly. Talvez o ritmo empregado, na forma de recitação ao invés de cantado, pode desagradar algumas pessoas. Mas não tem como pegar os textos dela e não se identificar. Diferente de muitos músicos, Smith conta histórias em suas canções.
Destaques também para as faixas Break it Up e para o cover do Who, My Generation, que faz parte somente do relançamento do disco em CD em 2005. Nesta, o ouvinte vai ter mais ou menos uma ideia do que era Patti Smith na década de 60. E me diz depois se não é muito punk!
Vai ouvir o disco? Então, eu recomendo, pegue as letras e acompanhe lendo! Não sabe inglês? Pega a tradução então. Não tem como, são lindas demais!
LISTA DE FAIXAS
1. Gloria: In Excelsis Deo; Gloria
2. Redondo Beach
3. Birdland
4. Free Money
5. Kimberly
6. Break It Up
7. Land: Horses; Land of a Thousand Dances; La Mer(De)
8. Elegie
9. My Generation (Live) *
* faixa bônus do relançamento de Horses em 2005
AVALIAÇÃO 0-10
Nota 7.
OUTRAS REFEERÊNCIAS
McNeil, L.; McCain, G. “Mate-me por favor”. Trad.: Lúcia Brito. L&PM Editores: Porto Alegre-RS, 2004.
E ae Fabão! Da hora, cara!
ResponderExcluirEu n conheço ela mto, mas baixei o disco, vou ouvir!
N é ela q canta aquela "Because the night belongs to lovers ..."?
Buli
Exatamente Buli. Só que essa música não é desse disco, é do terceiro dela, chama-se Easter.
ResponderExcluirO Bruce Springsteen é o autor de verdade dessa música, conta-se que Patti mudou algumas linhas, inseriu uns detalhes, mas quem fez a maior parte foi ele. Curiosamente, ele nunca gravou essa música... até o ano passado! O disco The Promisse do Springsteen é o primeiro com uma versão estúdio dela. Depois de mais de 30 anos de compô-la!
abração!
Caramba! Legal a história deste q sem dúvida é um clássico! Valeu, Fabião!
ResponderExcluirBuli
Bom texto. Obrigado.
ResponderExcluirEu que agradeço. Não estou mais atualizando o blog, mas tenho planos de fazê-lo. Volte mais vezes!
ExcluirVIM DO FUTURO PARA DIZER QUE: Sua review é foda, esse albúm é foda, o site é foda, parabens cara!!!!!!
ResponderExcluire eu vim 1 mês depois para reiterar teu comentário!
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