13 de mai. de 2011

“Ramones” (The Ramones, 1976)

Capa de "Ramones", de 1976



Como é a primeira resenha que redijo, resolvi começar com a minha “banda de cabeceira”: os Ramones. Esse grupo revolucionou não só a música, como muitas outras coisas no âmbito artístico. Seu primeiro disco pulverizou uma ideia que persiste até hoje – e pra ser honesto, tem mais a ver com os dias de hoje do que naquela época – o “Do It Yourself” (“Faça Você Mesmo”).


A BANDA

O disco original tem 14 faixas e menos de 30 minutos de duração. Se eu dissesse isso pra alguém em 1976, a pessoa provavelmente teria dito: “O quê?! Você não quis dizer 4 faixas em 30 minutos?” Isso porque os artistas da época costumavam fazer canções com uns 5 minutos, as vezes com o dobro disso, e até mais. Era uma época de virtuosismo.

E, em toda época, existem bandas covers. Quando os amigos John Cummings, Douglas Colvin e Jeffrey Hyman se juntaram pra formar uma banda, era isso que eles tinham em mente. O problema era que eles não sabiam tocar quase nada! Quem vê assim, pensa: “A banda deve ter durado uns três ensaios”. Quase! Se não fosse um detalhe: Thomas Erdelyi.

Amigo de John, ele sugeriu algumas mudanças: fazer canções autorais, tirar o Doug dos vocais e guitarra e mandá-lo pro contrabaixo, tirar o Jeff da bateria e mandá-lo pros vocais, e buscar um novo baterista. O que ele não previra foi que ele mesmo seria o batera. Surge a banda “Ramones”. Há essa altura, você já deve ter suposto que John, Jeff, Doug, e Thomas são Johnny, Joey, Dee Dee e Tommy Ramone, respectivamente.


CONTEXTO HISTÓRICO

Os primeiros anos da década de 70 foram muito loucos. O rock estava passando por uma revolução, e várias tendências eclodiam. O Black Sababth e o Deep Purple encabeçavam o que viria a se chamar hard rock; Yes e Pink Floyd abusavam do experimentalismo no progressivo; Jetro Tull trazia a ideia do folk; entre outras.

Mas todos esses exemplos são europeus. Nos EUA, as coisas não iam bem, era a época da crise do petróleo. Mesmo assim, alguns artistas se destacaram seguindo um caminho diferente. O Velvet Underground já havia dado a receita: tudo é arte, tudo vale.

Foi nessa onda que surgiram nomes como Patti Smith, New York Dolls, MC5 e outros, que traziam propostas diferentes das do velho continente: músicas mais simples, temas cotidianos. Os futuros integrantes dos Ramones eram fãs desses grupos, o que os motivou a montar a banda em meados de 1974.

Depois de algumas “cabeçadas”, a banda fixou sua formação, e dois anos depois gravam o primeiro disco, auto-intitulado. Foi um tremendo baque pra todo mundo. Embora os discos de artistas estadunidenses fossem mais simples, “Ramones” era cru demais. Boa parte das faixas não ultrapassava 2 minutos, nenhuma delas tinha solo, e ainda havia um cover super estranho de “Let’s Dance”, de Jim Lee. Letras que falavam sobre cheirar cola, massacre da serra elétrica, bater em jovens com taco de baseball... Que disco era esse?

Era, nada mais nada menos, do que a gênese do punk rock!


O DISCO

“Ramones” abre com o provável maior clássico dos Ramones, Blitzkrieg Bop. Quem nunca cantou junto com ela (“Hey, Ho, Let’s go... Hey, Ho, Let’s go...”) que atire a primeira pedra! Era canção obrigatória em seus shows. Um monte de músicos que conheço afirma que esta foi a primeira música que aprendeu a tocar.

As duas faixas seguintes seguem esse mesmo ritmo frenético da primeira, sendo quebrado só na quarta faixa, na “quase balada” I Wanna Be Your Boyfriend. Mas é só uma breve pausa mesmo, porque a pancadaria segue ao resto do álbum (inclusive o cover de Jim Lee).

Destas, o maior destaque vai para a faixa 4 do lado B (faixa 11, no CD), 53rd & 3rd. A letra, de Dee Dee, trata de um michê que quase nunca era pego por clientes em seu ponto (a esquina das avenidas 53.ª com a 3.ª). Quando finalmente consegue um cliente, o michê o mata a facadas, só pra provar que não é homossexual. Sabe-se que Dee Dee, antes de integrar os Ramones, fazia esse tipo de serviço, exatamente naquela esquina. Sempre que lhe era perguntado se essa canção era “autobiográfica”, Dee Dee nunca dava respostas claras, sempre desconversando.

Enfim, “Ramones” é, sem dúvida, um dos discos mais importantes do rock em todos os tempos. Ele abriu uma porta para muitos músicos e bandas. Quer você goste da banda ou não, o fato é que, depois do lançamento desse disco, quase tudo mudou no mundo da música.


LISTA DE FAIXAS

1. Blitzkrieg Bop
2. Beat On The Brat
3. Judy Is A Punk
4. I Wanna Be Your Boyfriend
5. Chain Saw
6. Now I Wanna Sniff Some Glue
7. I Don't Wanna Go Down To The Basement
8. Loudmouth
9. Havana Affair
10. Listen To My Heart
11. 53rd & 3rd
12. Let's Dance
13. I Don't Wanna Walk Around With You
14. Today Your Love, Tomorrow The World
15. I Wanna Be Your Boyfriend (demo) *
16. Judy Is a Punk (demo) *
17. I Don't Care (demo) *
18. I Can't Be (demo) *
19. Now I Wanna Sniff Some Glue (demo) *
20. I Don’t Wanna Be Learned/I Don't Wanna Be Tamed (demo) *
21. You Should Never Have Opened That Door (demo) *
22. Blitzkrieg Bop (single) *

* faixas adicionais no relançamento do álbum em 2001.


AVALIAÇÃO 0-10

Nota 9.


OUTRAS REFERÊNCIAS

McNeil, L.; McCain, G. “Mate-me por favor”. Trad.: Lúcia Brito. L&PM Editores: Porto Alegre-RS, 2004.

Filme: “End of the Century: The Story of the Ramones”. Direção: Jim Fields. Documentário. Inglês. 110 minutos. EUA, 2003.

2 comentários:

  1. 1,2,3,4!
    Vc n poderia abrir d melhor maneira o blog, Fabio!
    Ramones é q nem Chaves, cara, pode ouvir mil vezes e sempre vai gostar e ser bom. Inclusive ambos são toscos e engraçados. Há um 'do it yourself' entre eles, n acha!?

    Bom, sobre a resenha, legal q vc pegou td o lado histórico da época, mto bom, pois isso foi pra mostrar o grau incrível d impacto q esse disco significa

    Meu, só pela capa vc já v q os caras n tão nem aí e querem mostar o q fazem msmo: O Tommy ta em cima d uma 'guia' da rua pra ficar nivalado c/ os outros (menos Joey) só daí vc já v o 'nipe' dos caras. Ah, o Johnny ta c/ uma camisa do Popeye, porra, isso é punk!

    Sobre a formação mto legal a parte q vc frisou a importância do 'Little Tom' no começo. Acho q antes d Johnny se tornar o adm da banda, ele deve ter aprendido um pouco c/ a organização e visão do baixinho húngaro

    Sobre as músicas, Blitzkrieg é hino, Judy is a Punk inaugura uma coisa totalmente nova em termos d harmonia ou uma boa prévia do seria o HC anos mais tde

    Bom, cada música tem sua história clássica

    Parabéns Fabio Ramone! Gabba Gabba Hey sempre!

    Abraçones!

    Buli Ramone

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  2. Buli, valeu por ter lido e comentado. Você é muito parceiro, cara, obrigadão!


    Mas é exatamente como você falou aí. Todo mundo adora os três integrantes do frontline, mas a maioria sabe muito pouco sobre os bateras. E o Tommy é, de fato, o cara que botou alguma ordem no grupo. Eu penso que o Ramones só é o que é hoje graças a ele; acho que se não fosse por Tommy o grupo teria sido só mais um.


    Vou colocar uma resenha dessa a cada semana. E já vou adiantando. Semana que vem analiso o primeiro disco das Runaways.


    Abração.

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