11 de abr. de 2012

"Please Please Me" (The Beatles, 1963)

Capa de Please Please Me, de 1963


Como falar sobre música, rock, discos, cultura, história, sem mencionar os Beatles? Impossível. Os Beatles foram, com certeza (sem medo das opiniões contrárias), a banda mais influente da música contemporânea. E muito disso se dá porque eles foram os primeiros a inovar em diversos aspectos, além de quebrar vários paradigmas. Dentre estes, o primeiro, talvez, tenha sido a própria estrutura da música, em arranjos incrivelmente simples e ao mesmo tempo inusitados.




A BANDA


O ano é 1957, 6 de julho. Na Inglaterra, é começo de verão. É comum, neste período, ocorrerem festividades. Não era diferente na Igreja St. Peter, em Liverpool. James, então com 15 anos, foi à uma quermesse desta igreja, e assistiu à uma banda local, de nome Quarrymen, formada poucos meses antes. Ele viu instrumentos toscos, boa parte feitos com utensílios domésticos: vassouras, tábuas, arames. Os músicos, nenhum parecia um "novo Mozart". O vocalista/violonista olhava a plateia com desprezo, postura arrogante e ignóbil. Seu nome: John.


Mas, enquanto todos procuravam quitutes ou puxavam assunto com conhecidos, tentando ignorar a "vergonha alheia" no palco, James parecia encantado. Ele nunca tinha visto algo assim antes. Quis conhecer o vocalista. Quando conseguiu falar com ele, John não lhe deu muita bola. Até James pegar o violão emprestado. Afinou-o, e deu uma palhinha de "Twenty Flight Rock", de Eddie Cochran. John ficou impressionado, James era bom, e o convidou para entrar pra banda.


Estava consolidada a parceria mais importante da música contemporânea: Lennon (o "John") e McCartney (o "James"). O embrião dos Beatles!


Posteriormente, após trocas de integrantes e vários contatos, a formação permaneceu com os "fab four": George Harrison, Ringo Starr, além de John e Paul. Mas, embora todos saibam da evolução e sofisticação do som do grupo ao longo do tempo, um detalhe permeou toda a carreira do grupo, desde seu primeiro disco: a experimentação. Muitos afirmam que esta característica é uma herança dos seus primórdios de Quarrymen, fundados no skiffle.




CONTEXTO HISTÓRICO


Não é comum associar o skiffle ao rock, normalmente relacionado ao blues. Usualmente, o skiffle tem relações com o jazz ou o folk. Isso porque, na década de 50, o rock ainda engatinhava e apresentava ao mundo seus primeiros "heroes". Estes artistas (Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Eddie Cochram, Elvis Presley, a lista é gigante) pegaram basicamente a linha-mestra do blues, aumentaram o tempo musical, jogaram a força rítmica na guitarra, um texto mais leve e... "voilà"! Rock'n'Roll!


Entretanto, as músicas permaneciam com a mesma "cara". Era como se fosse um blues mais rápido. Pra quem estuda rimas poéticas, é mais fácil compreender: quase todo rock desse período tinha o esquemão "A-A/B-A/C-B/A-A". E pra quem estuda teoria musical, entenda A, B e C como tônica, subdominante e dominante. Mas pra quem não estuda nada disso, é mais fácil com exemplos práticos: ouça "Blue Suede Shoes", qualquer versão. É disso que eu estou falando.


É nesse ponto que entram os Quarrymen e o seu skiffle. Esse ritmo, tão incomum aos brasileiros, foi muito popular na Inglaterra, pouco antes da explosão do rock nos EUA. E ele também tinha o seu "heroe", na figura de Lonnie Donegan, até hoje tido como referência. O ponto alto do estilo de Donegan era o improviso, a estrutura musical livre de padrões e os instrumentos caseiros. Com essa fórmula, é fácil concluir que o skiffle era mais popular entre as comuidades mais pobres.


Foi a fusão do rock clássico dos EUA com a liberdade do skiffle dos Quarrymen que fez com que "Please Please Me", o álbum debutante dos Beatles, virasse a cabeça da molecada da época.




O DISCO


A discografia dos Beatles é meio estranha. Se você pegar o primeiro disco (este) e o último gravado ("Abbey Road"), a sensação é que se trata de duas bandas absolutamente distintas. Isso porque eles evoluiram musicalmente ao longo dos 8 ou 9 anos em que a banda existiu de maneira ímpar, as músicas ficaram mais sofisticadas com o tempo. Há quem afirme que existem dois Beatles: antes do "Revolver" e depois do "Revolver".


Independentemente disso, se há uma coisa que se pode afirmar que nunca mudou, desde "Please Please Me", foi a experimentação, como já falei antes, motivada pela influência de Lonnie Donegan e seu skiffle. Pode-se observar esta influência original em algumas músicas deste disco, como "Misery" e a belíssima "A taste of honey". Os clássicos do rock também têm bastante peso nesse disco. Nota-se grande influência em "I saw her standing there", "P.S. I love you" e "Baby it's you". Também vemos a fusão do esquemão blues que eu citei acima nas faixas "Boys" e "Chains".


Apesar disso, duas músicas se destacaram e se tornaram os maiores sucessos que iniciaram a "beatlemania". A primeira foi "Love Me Do", o maior sucesso do disco, com seu indefectível solinho de gaita. A segunda foi hit na época, e ficou muito popular nos anos 80: "Twist and Shout". O motivo do "revival" foi por ela ter feito parte da trilha sonora do filme "Curtindo a vida adoidado", uma das comédias mais aclamadas do período. Esta canção também é considerada um dos maiores covers de todos os tempos, superando a original, do grupo Isley Brothers.


Embora icônico, "Please Please Me" é só um fragmento do que foi o restante da discografia dos Beatles. Em média, ele não está entre os melhores da banda. Porém, foi o que os impulsionou, desencadeando vários eventos que mudariam a forma de fazer e de ouvir música no mundo todo.




LISTA DE FAIXAS


1. I Saw Her Standing There
2. Misery
3. Anna (Go to Him)
4. Chains
5. Boys
6. Ask Me Why
7. Please Please Me
8. Love Me Do
9. P.S. I Love You
10. Baby It's You
11. Do You Want To Know A Secret
12. A Taste of Honey
13. There's A Place
14. Twist and Shout





AVALIAÇÃO (0-10)


Nota 7

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