21 de jun. de 2012

Capas: Essa eu já vi... em algum lugar...

Eu já citei aqui no blog que a música, tendo milhares de anos de existência, é óbvio que alguma coisa vai sair parecida com a outra. Nem sempre se trata de um plágio. No mundo da música, coincidências ocorrem o tempo todo, sempre tem referências a artistas ou grupos em tom de homenagem, ou simplesmente se trata de falta de inspiração. Neste post, vou mostrar 10 dessas “coincidências” que aconteceram nas capas de discos.



Categoria da coincidência: Só coincidência mesmo.

New Life/Shout! (Depeche Mode, 1981)
Born Again (Black Sabbath, 1983)

Décadas atrás, era comum às bandas o lançamento de singles (um vinil pequeno, com só uma música em cada lado). O Depeche Mode não foi diferente, promovendo em 1981 a música New Life, futuramente no set do disco Speak & Spell. Dois anos depois, o Black Sabbath lançaria Born Again. Para a capa, chamaram o artista Steve Joule. Ele criou este desenho, meio que na intenção de que ele fosse reprovado. Para sua surpresa, Tony Iommi o adorou, e foi adotado para a capa desse disco.

A verdadeira "vítima".
E, como vê, ela é, em quase tudo, idêntica ao do single do Depeche Mode! Plágio? Não... e sim... talvez!

Acontece que, provavelmente por preguiça dos artistas, ambos tiveram a mesma ideia. Pegaram a capa de uma edição da revista Mind Alive e fizeram uma arte em cima da foto do bebezinho. Assim, comprovou-se que o Sabbath não plagiou o Depeche. Na verdade, ambos plagiaram a Mind Alive!







Categoria da coincidência: Homenagem.

Kill 'em All (Metallica, 1983)
Kill Emo All (Nitrominds, 2010)

Não vou contar de novo a história do Kill ‘em All. Já fiz isso, clica aqui e leia! Tá bom, só uma palhinha. Lars Ulrich botou uns anúncios no jornal, conheceu James Hetfield, Kirk Hammet e Cliff Burton, fizeram esse disco e inventaram o thrash metal. Quase três décadas depois o Nitrominds, banda brasileira de hardcore com certo renome, edita um disco de covers, com canções de suas influências, com uma seleção muito boa dentro dessa estética, com Pennywise, Police, Hüsker Dü, Ratos de Porão, entre outros.

Com a grande popularidade do Emocore ao final da década 2000, estilo não tão querido pelos fãs do Nitrominds, o grupo teve a ideia bem humorada de batizar o disco como Kill Emo All, uma corruptela do álbum do Metallica, consagrando também a sua arte. Afinal, os fãs do Metallica também não são lá tão simpáticos às bandas Emo.

Apesar disso, Kill Emo All não teve grande repercussão. Por isso, e outros motivos, a banda do ABC Paulista anunciou, em 11/06/2012, o encerramento de suas atividades.

Categoria da coincidência: Homenagem, mas com uma pontinha de sátira.

Elvis Presley (Elvis Presley, 1956)
London Calling (Clash, 1979)


Elvis é um dos maiores mitos do rock. Sua voz tinha extensão invejada, sua dança e trejeitos, o visual, a interpretação acelerada. Por isso, muitos o creditam como “Rei do Rock”, um dos primeiros ídolos do estilo. Mas o rock, como todos sabem, evoluiu conforme o contexto histórico. Assim, a década de 70 temperou o estilo com punhados de ideologia política e uma vontade incontrolável de chutar tudo. Denominou-se esse movimento como Punk. Nessa onda, puxada por Ramones e Sex Pistols, surgiu vários grupos, dentre os quais um dos mais importantes foi o Clash.

Como fãs do rock clássico, simples e pegado, como os músicos da geração de Elvis faziam, os integrantes do Clash editam, em 1979, London Calling. Para a capa, a homenagem é clara, mas a foto mostra que, no punk, o bicho pega! A foto, do baixista Paul Simonon destruindo seu equipamento, se tornou um ícone no estilo.

Curiosamente, o próprio Simonon detestava essa foto, e recomendou que ela não fosse usada para o London Calling!

Categoria da coincidência: Sátira. Descarada.

Sgt. Peppers... (Beatles, 1967)
We're Only... (Mother of Invention, 1968)


Pensa numa banda com tanta moral na gravadora a ponto de chegar e dizer: “Viu, a gente não vai mais tocar ao vivo, vamos trabalhar só em estúdio, ok?” Assim eram os Beatles desde o fim de 1966. Resultado: Sgt. Peppers, o disco mais aclamado da banda. A psicodelia era a onda do momento. E tudo que está em evidência, logo ganha seus contra-argumentos.

Foi nessa que entrou Frank Zappa. O prolixo líder do Mothers of Invention tinha um projeto de fazer um álbum de paródias. Algo semelhante ao Gates of Metal do Massacration. Quando Sgt. Peppers surgiu e sua repercussão tomou rumos de frenesi, Zappa não teve dúvida. Elaborou essa capa, claramente parodiando o disco dos Fab Four.

A original. Horrível!!
Mas os fãs do Mothers não chegaram a ver isso em 1968. É que o álbum era tão ácido que muitas coisas foram censuradas, de versos a trechos de letra inteiros, o que incluiu a arte da capa, substituída por uma foto ridícula dos integrantes. Esta capa, bem mais legal, foi publicada na reedição do We’re Only... em 1988.

Categoria da coincidência: Sátira.

Abbey Road (Beatles, 1969)
Vinte e Um... (Língua de Trapo, 2000)


Até a Turma da Mônica já atravessou essa rua!
Na verdade, quase tudo dos Beatles foi “homenageado”. As capas, claro, não são exceção. Esta então, acredito que é a capa que ganhou o maior número de paródias na história. Não pra menos, ela própria é uma paródia de si mesma. Na época havia uma lenda urbana que Paul McCartney havia morrido, e um impostor estava em seu lugar. Há várias dicas dessa suposta “verdade” nesta capa, como a sua foto descalço, o cigarro na mão destra, a placa do Fusca... Uma grande brincadeira dos Fab Four, usando os boatos a seu favor.

Bom humor é um recurso amplamente usado na música em geral. E para o Língua de Trapo, grupo paulistano em atividade desde 1979, rir de si mesmo é a linha-master de suas músicas. Eles fazem rock, basicamente, mas a banda trafega com conforto em vários outros estilos, de Bossa Nova a Pagode. Tudo com humor, abusando de metáforas, ironias, sátiras e qualquer outro recurso do riso.

Seu último disco oficial, datado de 2000, recebeu o sugestivo nome de “Vinte e Um Anos na Estrada”. E nada poderia ser mais clichê do que parodiar a clássica capa de Abbey Road.


Ouvir Abbey Road dos Beatles | Não tenho o Vinte e Um Anos na Estrada do Língua de Trapo, desculpe!



6. Let It Be (Beatles, 1970) X Demon Days (Gorillaz, 2005)

Categoria da coincidência: Homenagem.

Let It Be (Beatles, 1970)
Demon Days (Gorillaz, 2005)


Prometo, é o último disco dos Beatles que vai aparecer! Que posso fazer, os caras influenciaram quase tudo na música! Até este disco, Let it Be, lançado em data na qual a banda nem existia mais (o grupo terminou o Abbey Road e anunciou o fim das atividades), é considerado icônico por fãs e críticos. Seu legado se alastrou em todas as esferas da cultura, até hoje. Inclusive para influenciar Damon Albarn, ex-líder do Blur, a criar projetos musicais experimentais. De todos, o que obteve maior reconhecimento de mídia foi o Gorillaz.

Essa banda na verdade não é uma banda! Como é que vou explicar... bom, os Gorillaz, na verdade, não existem. São personagens de animação, desenhos, por assim dizer. É como se fossem uma “banda-gibi”: eles têm uma história, origem, influências, conflitos, ex-integrantes... mas tudo produto de criação de Albarn.

Seu 2º disco, Demon Days, usa a capa pra fazer uma clara referência aos Beatles, como homenagem a uma das primeiras bandas a usar personagens para identificar seus integrantes.

Categoria da coincidência: Sátira. Descarada.

The Spaghetti... (Guns n' Roses, 1993)
Feijoada... (Ratos de Porão, 1995)


O Guns sempre nutriu esse lance de “amor e ódio”. Apesar de suas músicas serem ótimas, o comportamento dos integrantes era meio autodestrutivo, chegando a sair no tapa com imprensa e fãs. Entre a banda, sempre houve controvérsia, e o início dos anos 90 decretaria o fim do grupo, ou pelo menos de sua formação clássica. A despedida foi melancólica: o disco Spaghetti Incident, só de covers, embora tivesse uma seleção interessante (com New York Dolls, Stooges, Misfits...), não teve boa recepção, e nem turnê teve.

Capa da seleção nacional
Enquanto isso, no Brasil, outra banda aproveitaria a onda de comemoração pela carreira e também lança um disco de covers. O Ratos de Porão, conhecido por seu punk escrachado, em 1995 edita Feijoada Acidente, trazendo suas influências. A seleção é bem legal também, tem Dead Kennedys, Dead Boys, Cascavelletes, Olho Seco e vários outros.

Diferentemente dos californianos, os paulistanos nunca se levaram muito a sério, e a capa de Feijoada... reflete isso. A paródia é explícita.

Categoria da coincidência: Só coincidência mesmo.

Movin' On (Commodores, 1975)
A Different... (Van Halen, 2012)


Desde 1959, a Motown se tornou referência em produção musical. Sente só algumas de suas “invenções”: Jackson 5, Diana Ross, Stevie Wonder... pra ficar só em alguns nomes! Dentre estes, está o Commodores, grupo de soul que catapultou a carreira de Lionel Richie. O 3º disco da banda é Movin’ On, e teve como principal sucesso a faixa Sweet Love.

Era só um poster sem graça...
Quando os Commodores já gozavam os benefícios do apadrinhamento da Motown, o Van Halen ainda tentava emergir. Conseguiram, lançando disco homônimo em 1978. E, como todo grupo de rock, eles sempre estiveram envolvidos em polêmicas e troca de membros. Com o retorno do vocal David Lee Roth, a banda lançou este ano seu mais recente trabalho. E, como dá pra ver, tirando um detalhe ou outro, as capas parecem ser rigorosamente as mesmas.

Ao ser divulgada, indagou-se o plágio por parte da trupe de Eddie Van Halen. Entretanto, assim como nas capas de Born Again e New Life, o que se verificou foi só uma coincidência. Ambos usaram a mesma foto pra compor a arte da capa.

Categoria da coincidência: Suspeita de plágio.

Open Fire (Alabama Thunderpussy, 2007)
Lwy Ognia (Open Fire, 1987)


O heavy metal eclodiu no fim dos anos 70, e de lá pra cá ganhou uma infinidade de subgêneros. Muita banda surgiu, mas nem todas conseguiram renome. Parece ser o caso do polonês Open Fire. Confesso que não achei muita coisa na internet dessa banda em língua que eu consiga ler, e mesmo este disco, Lwy Ognia, nem consta como oficialmente lançado.

O fato é que em 2007 o grupo Alabama Thunderpussy lançou o disco Open Fire (opa! De onde eu conheço esse nome?), e aquela é a capa (opa, opa!! É a mesma... ou impressão minha? Não, é a mesma!). O artista que a criou é Ken Kelly, que já fez capas para Manowar e Kiss. Esta arte lhes rendeu a reclamação de direitos autorais por parte dos ex-Open Fire.

Porém, os poloneses não têm nada registrado oficialmente deste bootleg. Já os estadunidenses de Virginia têm os documentos da propriedade da imagem, e alegaram nunca ter ouvido falar da banda europeia, nem do disco. Conclusão: inocentes. Pelo menos até que se prove o contrário.

Categoria da coincidência: Só coincidência mesmo. Mas com jeito lascado de plágio.

Another Fine... (Gilgamesh, 1978)
The Chemical... (Bruce Dickinson, 1998)


O Gilgamesh foi uma banda que fez parte da cena de Canterbury. Canterbury está para o Jazz Fusion, assim como Seattle está para o Grunge, mais ou menos isso. Já Bruce Dickinson dispensa apresentações. Mudou o Iron Maiden quando entrou, e ao sair pra carreira solo, gravou 6 discos, todos com mais repercussão do que os repetitivos “A Real ‘qualquer-coisa’ One” do ex grupo. Porém em 1998, foi acusado de plagiar a capa do disco do Gilgamesh no The Chemical Wedding.

William Blake, o "pai da criança"
O autor da arte de Chemical... é Hugh Gilmour, conhecido no ramo. Questionado sobre esta capa, deu uma resposta convincente... porém estranha. Primeiro, disse que nesta área “artistas são inspirados e influenciados uns pelos outros” (como se procurasse justificar a “cópia”). Depois, afirmou que tirou a ideia de uma ilustração de William Blake, de nome “Fantasma de uma Pulga”, de 1819. Assim como fizera o Gilgamesh, duas décadas antes.

De fato, a ilustração de Blake respalda claramente o argumento de Gilmour. Mas, cá pra nós, que ficou com jeito de desculpa esfarrapada, ficou!




E o artigo chegou ao fim. Você já conhecia algumas das histórias que contei aqui, talvez algumas lhe sejam novidade. Espero que o entretenimento tenha sido bacana.

Mas... eu citei só 10 casos. Com certeza, deve haver mais, muito mais. Você conhece algum outro?

2 comentários:

  1. Muito boa essa série, muitas eu não conhecia. Acho que a mais representativa é a capa do London Calling, a ideia de homenagem mais interessante, mostrando mais ou menos o que aconteceu entre o rockabilly e o punk.

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    1. Sem dúvida, é uma das mais importantes de todas! A minha história preferida, quando li, foi a daquelas bandas de metal, a tal Open Fire e a Alabama Thunderpussy. É daquelas coisas que sempre dão a impressão que alguém escondeu algum detalhe!

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