6 de jun. de 2011

“Nós Vamos Invadir Sua Praia” (Ultraje a Rigor, 1984)

Capa de "Nós Vamos Invadir..." de 1984.

Eu falo muito pouco das bandas nacionais, né? Mas não quer dizer que eu não curta o rock tupiniquim. Esse post vai tratar de uma das bandas mais importantes do Brasil: Ultraje a Rigor. Se você curte Massacration, Mamonas Assassinas ou qualquer banda que acrescente humor ao rock, saiba que o Ultraje foi, talvez, o primeiro grupo a fazer isso no Brasil, numa época em que a censura ainda assombrava os artistas.


A BANDA

A banda já estava em atividade desde 1980. No começo, Roger (guita base e voz), Edgard (guita solo), Silvio (baixo) e Leôspa (batera) tocavam covers de várias bandas, como Beatles, Ramones, entre outros.

Mas ainda faltava bolar o nome! Roger teve uma ideia, e mostrou para o grupo: “Que tal Ultraje?”. Edgard, desatento, replicou: “O quê, Traje? Como assim, Traje a Rigor?” Todo mundo caiu na gargalhada do “lapso”, e o trocadilho veio fácil. O nome estava resolvido.

Nesse ponto, a banda decidiu várias mudanças. Eles se dedicariam mais às suas próprias composições, e os shows seguiriam essa linha. Mais tarde, assinaram contrato com o produtor Pena Schmidt, e a partir daí começaram a produzir alguns singles.

O ritmo de trabalho para a banda começava a crescer vertiginosamente, as coisas começavam a ficar mais sérias. E este foi o fim da linha Silvio, substituído por Maurício, e Edgard, que tinha duas bandas na época, optando por ficar na outra (a propósito, a outra é o Ira, e sim, esse Edgard é o Edgard Scandurra), sendo substituído por Carlinhos. E foi essa a formação que grava, em 1984, o primeiro disco do grupo.


CONTEXTO HISTÓRICO

Quando eu falei nos posts anteriores que a década de 80 foi, talvez, a mais produtiva da música, vale colocar uma ressalva. Isso vale para os países da Europa e os EUA. Porque na América latina e demais continentes, as coisas não andavam a esse “mar de rosas”.

No Brasil, era um momento crítico na economia e política. Duas décadas antes, houve o golpe militar. Não entrando em detalhes, porque se não eu vou desviar do assunto principal, mas os direcionamentos econômicos desse militarismo trouxeram o Brasil à década de 80 com vários problemas: hiperinflação, infra-estrutura precária, e outras coisas.

Nesse pacote de “cabeçadas”, houve o AI-5, que foi tipo uma consolidação de decretos para o “bem estar político e social”. Entenda-se censura de tudo quanto era tipo. Um monte de músicos foi punido nesse período, como Raul Seixas, Elis Regina, Geraldo Vandré e outros.

É claro que isso gerava revoltas populares. Pra resumir, durante a gestão Figueiredo (1979-1985), o militarismo começou a perder força. Aliado a isso, o movimento punk, embora já estivesse em “fim de carreira” no hemisfério norte, chegava com força aqui. Isso motivou os artistas a “cuspir” tudo o que lhes estava entalado. No caso do Ultraje, as canções eram cheias de críticas sociais e palavrões, o que antes, no ápice da gestão dos militares, era resultado de prisão, exílio... ou até coisa pior!


O DISCO

“Nós Vamos Invadir...” é um dos melhores discos de rock já produzidos no Brasil em todos os tempos. Duvida? Baixe e passe só uma palhinha de cada. Você vai descobrir que conhece a maioria das músicas.

O disco abre com sua faixa-título, uma das letras mais inteligentes eu já ouvi, numa referência aos “farofeiros” que, de tempo em tempo, “brotam” em praias de bacanas. É claro que não é só isso, a metáfora é bem simples: “nós viemos pra ficar!”

Assim como a primeira faixa, outras fazem criticas de diversas naturezas. Mim Quer Tocar fala de artistas que copiam estrangeiros. Rebelde Sem Causa é uma alfinetada no olho da classe média (naquela época, ela era endinheirada!). E Jesse Go poderia muito bem passar por atual, dada essa onde de celebridades instantâneas e ex-BBBs.

Mas nesse quesito, nenhuma delas é mais ferina que Inútil. Esta canção chegou a ser cogitada à censura, mas acabou passando. Não pra menos, veja os primeiros trechos: “A gente não sabemos escolher presidente, a gente não sabemos tomar conta da gente, ..., Tem gringo pensando que nós é indigente; Inútil, a gente somos inútil...”!

E pra quem torce o nariz para o punk, ouça direitinho todas as faixas. O estilo predomina, mas você vai identificar detalhes de vários ritmos, como country, reggae, ska, blues... Enfim, é uma variedade que não se vê por aí, pelo menos não com essa qualidade, tanto nos arranjos como nas letras.

Temos que dar valor ao nosso rock sim! Eis um bom exemplo aqui: muito bacana, bom humor... e é brasileiro!


LISTA DE FAIXAS

1. Nós Vamos Invadir sua Praia
2. Rebelde sem Causa
3. Mim Quer Tocar
4. Zoraide
5. Ciúme
6. Inútil
7. Marylou
8. Jesse Go
9. Eu Me Amo
10. Se Você Sabia
11. Independente Futebol Clube
12. Inútil (Versão Single-1983)*
13. Mim Quer Tocar*
14. Hino dos Cafajestes (Single)*
15. Marylou (Versão Carnaval)*
16. Ricota*

* faixas bônus inseridas na reedição de “Nós Vamos Invadir...” em 2001.


AVALIAÇÃO 0-10

Nota 8.

8 comentários:

  1. Adorei! Boas décadas aquela onde se tinha bom humor e boa música.

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  2. Porque diabos você deu nota oito pra esse disco?

    Merecia 11!

    E pro blog, 10!

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  3. cara, eu tenho o vinil desse disco,
    no lado B está escrito realmente "LADO B" e no lado A ta escrito "LADO B", tenho q ver qual do dois tem a menor faixa pra saber q é a Marylou (LADO B real)

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  4. À Larissa:

    Verdade, a década de 80 realmente foi muito rica em bandas boas e descontraídas. Pena a gente não ter mais exemplos disso atualmente... pelo menos, não na quantidade que havia nesse período.


    E muito obrigado por comentar, valeu mesmo. Grande abraço

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  5. Ao André:


    Cara, sabe que, depois que eu postei, eu esmo fiquei com essa pergunta. "Por que, diabos, eu dei 8 pra esse disco?" Sem dúvida, ele merece mais.

    Acho que foi porque eu o comparei com os outros que já estão aqui. Há de convir, Blizzard of Ozz, Ramones e Appetite for Destruction são clássicos sem tamanho.

    Acho que eu medi "Nós Vamos Invadir sua Praia" da maneira errada! De qualquer forma, obrigado pela crítica. Vou me lembrar disso nos próximos discos.


    Valeu, abraço.

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  6. Ao "melhor que morrer triste":


    (eu não consegui descobrir seu nome, e "melhor que morrer triste" é tão comprido e estranho... cara, você não se incomoda de eu te chamar de João, só pra eu não ter que ficar escrevendo tudo aquilo de novo? Valeu, sabia que você ia entender!)


    Então, João, eu também tenho esse vinil, por sinal. Aliás, é um dos pouquíssimos que eu ainda tenho.

    Mas, como há muitos anos que eu não os manipulos (décadas, pra ser honesto), não reparei nesse detalhe aí. Vou até checar se o meu tem esse erro de impressão também.


    João, valeu pelo comentário, cara. Abração!

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  7. Mais uma excelente escolha Fabião! Ultraje sem dúvida nenhuma é uma das melhores bandas nacionais d tds os tempos! E q falta faz aquele humor e aquele sabor d sacanagem em suas músicas!

    E n é só isso, como vc bem disse, há notável inteligência n só no tema das letras, mas tb na formação das msmas, métricas, rimas e td mais

    Mto bem comparado o contexto c/ a ditadura militar, Semi-Onisciente, tá d parabéns mais uma vez!

    As minhas favoritas desse são a faixa-título (em q tem uma 'cutucada' nos cariocas ou é mera interpretação pessoal!?) e tb Inútil q além da letra, do sarro, possui, na minha opinião, um dos melhores riffs d entrada da música brasileira!

    Buli

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  8. É verdade Buli. Esse riff de Inútil é muito bacana mesmo. E ele é também extremamente fácil de se fazer, lógico, se os instrumentistas tiverem um mínimo de habilidade.


    E é exatamente isso que eu mais gosto no Ultraje. As músicas são bacanas, engraçadas, inteligentes e simples. Não é a toa que se tornou uma das bandas mais importantes do Brasil.



    É, realmente, o André Santos tá certo. Nota 8 pra esse disco é muito pouco. Estou, oficialmente, alterando a nota desse disco pra 9, hehehehhe (10 também não... ainda não é o disco nota 10 que eu procuro!)


    Abraço, velhinho!

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