6 de out. de 2012

"Iron Maiden" (Iron Maiden, 1980)

Capa de "Iron Maiden", de 1980


Quem acompanha este blog já entendeu que o mais importante aqui é a história. E toda história tem uma origem. E muitas vezes, essa origem é inusitada e improvável. O Iron Maiden protagonizou um destes momentos improváveis no mundo da música. Principal responsável pelo "New Wave of British Heavy Metal", ou somente NWOBHM, é possível que seu líder, o baixista Steve Harris, não tivesse imaginado a proporção disso quando abriu mão de fazer o heavy metal tradicional e agregar elementos do punk rock, ideologia que ele detestava!


A BANDA

Ainda adolescente, Harris aprendeu sozinho a tocar contrabaixo, influenciado por bandas do heavy metal e do progressivo, como Black Sabbath, Yes, UFO, Genesis, Who e várias outras. Com esse rol de grupos complexos, era natural que ele procurasse ideias semelhantes. Só que ele deu um azar danado chamado "Punk Rock"! Quando ele incursava suas primeiras bandas, o movimento do "Do It yourself" estava a plenos pulmões, fazendo a cabeça dos jovens.

O DIY foi um balde de água fria para Harris, que ouviu "não" de vários grupos. Isso o irritava, pois além de não se identificar com o punk, ainda limitava sua ação. Decidido, em 1977 ele cria o Iron Maiden. Após inúmeras indas e vindas de músicos, firma com Dave Murray (guita) e Doug Sampson (batera), até conhecer Paul Di'Anno (vocal). Só tinha um problema: Di'Anno adorava punk!! Mas o Maiden já estava entravado, e já tinham sugerido "simplificar" o som tantas vezes, que o baixista decidiu ir na base do "vai tu mesmo".

Sem querer, Harris havia dado um golpe de mestre. Ao aceitar, ainda que relutante, a modificar o estilo do Maiden para um visual mais "sujo", e som mais simples e rápido, características do punk, agregado ao virtuosismo e à técnica comuns do metal e do progressivo, ele criou um estilo diferente. Era Heavy Metal... mas era algo mais. Depois, com a entrada de Dennis Stratton (guita) e de Clive Burr no lugar de Sampson, o Maiden gravaria seu primeiro disco.

Nascia o NWOBHM!



CONTEXTO HISTÓRICO

Quando eu decidi dar este viés a este artigo, do "acaso" que foi o surgimento do NWOBHM, comecei a procurar situações semelhantes na música. Só que, se você pensar bem, isso acontece o tempo todo, em vários âmbitos, em toda a história! Um exemplo clássico: a penicilina. O antibiótico descoberto por Alexander Fleming nada mais foi do que um prato de comida esquecido no laboratório! Após dias em decomposição, um fungo se desenvolveu ali. Este fungo era capaz de impedir a reprodução de bactérias! Totalmente sem querer!

Na cultura, tem até o nome pra isso: bricolagem. É quando você usa vários elementos pra criar outra coisa. No cinema, "Matrix" é exemplo. Os Wachowski usaram conceitos de várias religiões, filosofias e literaturas para compô-lo. Outro filme assim muito lembrado é "Bastardos Inglórios", do Quentin Tarantino. Tem um monte de referências a outros filmes, atores e diretores do passado.

Na música então... é assunto pra mais de mês! O Rock'n'Roll mesmo, aquele dos anos 50, de Chuck Berry e Little Richard, trazia misturas do blues, folk e gospel. O Progressivo, que citei antes, pegou isso e agregou jazz e música erudita. O grunge, do Nirvana e Pearl Jam, juntou o hard, punk, indie e uma pitadinha de leve de progressivo. O emo, que tanta gente zoa, agregou elementos do hardcore, punk, indie, grunge, gótico, pop... O Pop!! Quer melhor exemplo de bricolagem do que o pop? Acho que não existe!

Harris, sem dúvida, é destaque nestes exemplos de bricolagem na música. Por mais que ele relutasse em aceitar o punk, foi usar isso a seu favor que catapultou sua carreira e do Iron Maiden.



O DISCO

E logo de cara, logo que a primeira música abre, "Prowler", você já começa a perceber a influência de Di'Anno. Pegada, simples, rápida, ela poderia passar despercebida em qualquer disco de punk rock do mesmo período. Gostem os fãs do metal ou não, fica claro quando você percebe que a música inteira foi feita em cima de dois acordes só! Uma ou outra variação, mas basicamente é isso.

Certamente que o "dono da festa", Harris, não iria deixar fugir sua tendência. E ele faz isso na segunda faixa, "Remember tomorrow". Ao contrário de "Prowler", ela já demonstra a capacidade de virtuosismo do grupo. Bem mais cadenciada, com as linhas melódicas bem feitas e trabalhadas, Harris ainda não abandona sua origem, nesta que é uma das mais bonitas do disco.

Todo o "Iron..." parece conflitar essas duas tendências, as músicas mais elaboradas e virtuosas (como "Strange World" e a ótima "Phantom of the Opera") e momentos de pulso frenético e agilidade (ouvidos em "Sanctuary", "Iron Maiden" e o clássico "Running free"). E o disco segue sempre essa tendência, alterna momentos "punk" e outros "heavy", quase o tempo todo.

Posteriormente, o Maiden faria essa fusão de estilos com mais propriedade. Em "Iron..." as coisas ainda seguem razoavelmente divididas, com duas exceções. Uma é "Charlotte the Harlot", onde as duas tendências se equilibram bem. Outra é a instrumental "Transilvanya". Esta, pra mim, é a que mais lembra o que o Maiden viria a se tornar, fazendo a junção de estéticas de forma uníssona.

"Iron..." é um clássico. Esta formação não é a que os fãs conhecem como "a formação clássica", mas o disco é um de seus mais relevantes, e merece o destaque pela ousadia. Ainda que tal ousadia tenha sido meio que forçada!



LISTA DE FAIXAS

1. Prowler
2. Remember Tomorrow
3. Running Free
4. Phantom of the Opera
5. Transylvania
6. Strange World
7. Sanctuary *
8. Charlotte the Harlot
9. Iron Maiden

* "Sanctuary" não saiu na versão original britânica, somente na estadunidense. No relançamento de "Iron Maiden" em 1998, ela foi reposicionada para a faixa 2, entre "Prowler" e "Remember tomorrow".



AVALIAÇÃO (0-10)

Nota 8

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