13 de ago. de 2012

"Pussy Whipped" (Bikini Kill, 1994)

Capa de Pussy Whipped, de "1994"


É provável que você acessou este blog através de link no Twitter ou Facebook. Talvez você não saiba, mas esse tipo de mídia não existia há uns 8 anos. E como os jovens faziam pra se manifestar antes? Através de "fanzines"! Eles se tornaram febre por ser a voz da juventude, onde se manifestavam sobre todos os assuntos. E um dos temas que foi amplamente discutido neste meio no início dos anos 90 foi o feminismo. Da união deste tema com a música, surge um dos movimento mais relevantes de sua época: o Riot Grrrl.



A BANDA

Por volta de 1978, Kathleen Hanna vai com a mãe para Washington. Ela tem 9 anos. Em uma atividade, assiste a uma palestra de Gloria Steinem. Nela, a palestrante falou sobre feminismo e os direitos da mulher. Hanna aproveitou cada segundo, e se tornou fã de Steinem. Durante a juventude, passou a colecionar a revista que ela editorava, a "Ms.". Cortava os artigos de que gostava, e fazia montagens com alguns textos e frases suas. Em muitas delas, a frase era "Garotas podem fazer qualquer coisa".


Hanna então cresceu, e foi fazer faculdade de Fotografia em Olympia. Alí, iniciou sua militância feminista, e logo aprendeu a usar vários recursos pra difundir suas ideias, dos quais se especializou em recitais, música e fanzines. Assim, ela conhece posteriormente Tobi Vail, então baterista da banda Go Team e que colaborava para várias fanzines.

Ambas então decidem criar sua própria zine, que batizaram de "Bikini Kill", juntamente com outra estudante, Kathi Wilcox. Mas os zines eram pouco para o trio, de onde veio a ideia de formar uma banda com as três, mais o guitarrista da Go Team, Billy Karren. A difusão do feminismo inspirada pela filosofia "Faça Você Mesmo" (já citei isso aqui, e aqui), tomou proporções maiores, inspirando outras meninas (e meninos também) a mostrarem sua revolta por meio da música.

Era o nascimento do movimento "Riot Grrrl", mais um aliado da causa feminista.



CONTEXTO HISTÓRICO

Movimentos feministas, como o Riot Grrrl, não são novidade. Assim como não é notícia nova que as mulheres até hoje ralam demais pra cavar seu espaço na sociedade. A luta é árdua, e nos remete lá na Revolução Francesa.

N
o início do séc. XIX, a França apresentou diversas teorias baseadas no lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade". Nisso, mulheres se manifestaram para a reivindicação de direitos civis. Tais mulheres ganharam o apelido de suffragettes (tirado de "suffrage" = "voto"). Mas apesar dos ideais serem compatíveis, a sociedade ainda via as suffragettes de forma reticente.

Mesmo assim, essas francesas deixaram um legado, que abriu precedente para debates do tema, e encorajar seu aprofundamento. Em um desses estudos, em 1949, Simone de Beauvoir publica a obra "O Segundo Sexo", considerado um marco para o feminismo, por abordar questões da individualidade da mulher. Sua máxima é tida até hoje como referência: "não se nasce mulher, torna-se mulher".

Outra obra que seguiu esta linha foi "A Mística Feminina", de Betty Friedan, 1963. Ela ressalta que a mulher dever buscar sua personalidade fora do núcleo familiar, mas em si mesma. O livro foi inspiração para vários movimentos nos anos 60. Havia muitos questionamentos populares à política, a Guerra do Vietnã não era bem vista, e essa atmosfera se mostrou propícia para o debate feminista, que teve seu ápice no evento conhecido como "Queima de Sutiãs" em 1968.

A partir daí, mulheres em todo o mundo passaram a ocupar espaços na sociedade, passando pela política, trabalho e outros. E certamente que a música faz parte do rol. Artistas como Joan Jett, Madonna, Cindy Lauper, Alanis Morissette e várias outras entoaram o feminismo em suas músicas, e algumas delas serviram de modelo a Hanna e as precursoras do "Riot Grrrl". 



O DISCO

Tudo nesse disco transpira raiva! É um ódio explosivo, gritado, vomitado em todas as direções! A primeira sensação que tive quando o ouvi a primeira vez me lembrou outra história que já contei aqui, o "Plastic Ono Band": a mais pura demonstração de grito primal, instintivo e na cara!

E isso não se resumia só ao disco. As apresentações eram ainda mais explosivas. Hanna mandava os homens irem para trás, permitindo somente mulheres nas primeiras filas. Era comum também ela se despir no palco, e mostrar marcas desenhadas pelo corpo, normalmente palavras como "puta" ou "vadia". Francamente, não lembro de nada na música tão agressivo, revolto e inteligente ao mesmo tempo.

Todas as faixas seguem o padrão da raiva. Seja por reivindicação sexual (como em "Lil' Red", "Sugar" e "Magnet"), ou contra à hipocrisia masculina ("Star Bellied Boy" e a ótima "Blood One"), ou só um levante às mulheres ("Rebel Girl", "Alien She" e "Starfish"), a banda deixa claro que não vai poupar cusparada em quem duvidar da capacidade feminina. O único momento em "Pussy..." que me soa um pouco mais introspectivo é na faixa "For Tammy Rae", belíssima letra que faz menção a ex editora de zines com quem Hanna trabalhou.

"Pussy..." não é um primor técnico. Mas não é a questão aqui. Estamos falando de alguém que teve ousadia e coragem de traduzir em música o que toda mulher deveria pensar: "Garotas podem fazer qualquer coisa", como predissera uma adolescente Kathleen Hanna, em recortes de revistas.



LISTA DE FAIXAS

1. Blood One
2. Alien She
3. Magnet
4. Speed Heart
5. Lil' Red
6. Tell Me So
7. Sugar
8. Star Bellied Boy
9. Hamster Baby
10. Rebel Girl
11. Star Fish
12. For Tammy Rae
 



AVALIAÇÃO (0-10) 

Nota 7






P.S.: às mulheres que lerem este artigo, por favor me perdoem. O feminismo é um assunto muito amplo, tinha muito mais coisa pra falar sobre isso. Relevem minha falta de habilidade com o tema. Afinal... sou homem!

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